Por que devemos nomear as emoções para a criança?

A educação da afetividade tem estado entre os principais temas tratados neste blog. Em artigos anteriores, mostrei a natureza e a função desse trabalho parental nos primeiros seis anos de vida. Para ler, clique aqui e aqui, Na sequência desse assunto, hoje vou fazer um pequeno complemento, explicando o quanto é importante aproveitar as situações do dia a dia para ajudar a criança a identificar as suas próprias emoções.

Sabemos que dar nome aos objetos do mundo é o primeiro passo no processo de conhecê-los. E com a realidade psíquica não é diferente. Por isso, quando a criança experimenta emoções como alegria, raiva, tristeza ou medo, é importante que a ajudemos a compreender o que ela está sentindo. Porém, devemos estar sempre atentos para o risco de criar realidades emocionais que não existem. É comum que os pais ou cuidadores projetem sobre a criança os seus próprios padrões afetivos, antecipando emoções que a criança (ainda) não está experimentando. Ajudar a criança a reconhecer suas emoções depende de se conhecer verdadeiramente a criança, de observá-la com cuidado e atenção.

Outro ponto importante é o seguinte. Quando falamos em educação afetiva, não estamos tratando somente de identificação e expressão de emoções e sentimentos. Estamos falando também de autocontrole e autotranscendência. É muito importante que a criança seja gentilmente levada a perceber que existe uma instância de nossa pessoa a que damos o nome de “vontade”, e que a vontade deve ser exercida sempre na direção do que é bom e justo. As emoções e os sentimentos muitas vezes impedem o livre exercício da vontade e é por isso – sobretudo – que precisamos identificá-los e conhecê-los. Quando conhecemos o nosso sistema emocional, tornamo-nos mais capazes de administrar nossas emoções e fazer com que elas atuem como alavancas para a vontade, e não como obstáculos. Se o trabalho de educação afetiva não for guiado por essa perspectiva, corremos o risco de aprisionar a criança em uma estrutura de sentimentalismo egoico. Ao invés de administrar suas emoções para melhor se relacionar com o mundo e com os outros, ela se torna autorreferenciada e perde a conexão com a realidade à sua volta.

Mas veja bem: as estruturas neurobiológicas que possibilitam o autocontrole e o livre exercício da vontade só se consolidam ao final da adolescência, por volta dos 20 anos de idade. Portanto, não espere desse trabalho de educação afetiva efeitos imediatos. A natureza tem seu próprio tempo. Precisamos ajudá-la, mas pensando no médio e no longo prazo. O desenvolvimento da autoconsciência é um trabalho para a vida toda e cada pessoa construirá a sua própria trajetória. Você vai apenas dar ao seu filho algumas ferramentas iniciais, emprestando-lhe um pouco da sua experiência e do seu conhecimento do mundo, para que ele desenvolva os seus próprios recursos de autorregulação e se torne um adulto capaz de exercer o domínio sobre si.

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