Como montar uma bela biblioteca de contos de fadas para o seu filho


Já fiz um artigo aqui no blog a respeito dos gêneros literários que seu filho não pode deixar de conhecer. Tratei dos contos de fadas, das fábulas e da obra de Monteiro Lobato. Se você ainda não leu, clique aqui neste link para conhecer o meu argumento em detalhes. No texto de hoje, atendendo a pedidos, vou dar algumas dicas de livros de contos de fadas por faixa etária e, para introduzir o assunto, reproduzo o trecho relativo a esse gênero literário:

“Os Contos de Fadas têm origem no folclore medieval europeu. Ambientados em castelos, florestas ou pequenas aldeias, são povoados por fadas boas e bruxas más, aristocratas e plebeus, animais falantes e outros seres fantásticos que se relacionam com os humanos e contribuem, por meio de estratagemas ou encantamentos, para transformar o seu destino.

As narrativas orais dos camponeses medievais começaram a ser transpostas para a forma escrita a partir do século XII, mas foi com autores modernos como Charles Perrault (século XVII) e os irmãos Grimm (séculos XVIII/XIX) que elas adquiriram a feição que conhecemos hoje. As histórias originais eram mais violentas e trágicas do que as que contamos às nossas crianças. No processo de fixação dos contos na forma escrita, certos aspectos dos enredos e dos personagens foram sendo suavizados para se adaptar à sensibilidade urbana do leitor moderno.

Contudo, as histórias continuam muito atuais, pois tratam de temas centrais da experiência humana, como a angustiosa transição da infância para a vida adulta, o ciúme entre irmãos, a inveja da beleza, da riqueza e do sucesso, etc. Na maioria delas, o núcleo da narrativa é um conflito existencial: o herói ou a heroína buscam algum tipo de realização pessoal. No caminho, eles encontram obstáculos terríveis que precisam transpor.

Os contos de fadas cumprem ainda a importante função de acalmar a ansiedade infantil em relação à existência do perigo e do mal no mundo. O Bem e o Mal são apresentados de forma dicotômica, absoluta e explícita, permitindo às crianças trabalhar sua angústia de forma construtiva e otimista – porque nessas histórias, o Bem quase sempre vence. Os contos permitem, assim, à criança, organizar suas percepções e sentimentos, ao mesmo tempo em que ela é apresentada a arquétipos importantes da tradição ocidental.”

Explicado o porquê dos contos de fadas serem incontornáveis para a educação de seu filho, vamos então às dicas. Vou recomendar aqui quatro coletâneas que considero boas e adequadas, por faixa etária.

Para crianças entre 3 e 5 anos, sugiro “Meu Primeiro Livro de Contos de Fadas”, com adaptação de Mary Hoffman, publicado pela Cia das Letrinhas. Este livro é especialmente apropriado para as crianças pequenas tanto pela linguagem cuidadosa e mais acessível, quanto pela extensão abreviada das narrativas. Ele compreende quatorze contos de Grimm, Perrault, Andersen, Mme de Beaumont e Oscar Wild. A adaptação é da escritora britânica Mary Hoffman, que dedicou boa parte de sua carreira literária à divulgação de histórias clássicas.

Se o seu filho tem 5 anos ou mais, indico “Contos de Fadas”, da Clássicos Zahar, com apresentação de Ana Maria Machado. O livro reúne os mais conhecidos contos de Perrault, Grimm, Andersen, Joseph Jacob e outros, traduzidos a partir das versões escritas originais. São ao todo vinte contos. A edição é bem cuidada e fácil de manusear. Ideal para a leitura em voz alta, na hora de dormir.

Sugiro, porém, que você leia as histórias antes de narrá-las a seu filho. Pois, embora as versões apresentadas no livro tenham sido adaptadas à sensibilidade moderna, algumas ainda contêm elementos de violência física e moral que podem criar desconforto em nossos pequenos leitores. Você pode conversar com o seu filho sobre os trechos mais “pesados”, deixando que ele expresse as suas emoções a respeito, ou pode simplesmente  suavizar esses trechos durante a leitura e seguir adiante.

Recomendei esse volume para crianças maiores de cinco anos, por já serem mais amadurecidas tanto do ponto de vista afetivo, quanto em sua capacidade de separar fantasia de realidade. Estando mais maduras, elas poderão aproveitar melhor a beleza e a riqueza existencial contida nas histórias, sem grandes sobressaltos emocionais. De todo modo, cabe a você decidir quando apresentar cada conto ao seu filho, pois ninguém o conhece mais do que você.

Por fim, para famílias com crianças maiores, a partir dos seis, sete anos, recomendo os Fabulosos Livros Coloridos de Andrew Lang, que reúnem contos de diversos países e culturas. Recentemente, a Editora Concreta publicou o Livro Azul (37 contos), o Livro Vermelho (37 contos) e o Livro Verde (42 contos), com edições visualmente cuidadosas,  lindamente ilustradas. A princípio, eu os indico para crianças acima de seis anos porque, a meu ver, a linguagem e a extensão dos contos torna a sua assimilação mais difícil para as crianças menores. Em relação ao conteúdo, vale o mesmo que eu disse em relação à coletânea anterior. É bom que você leia os contos previamente, para que esteja preparado para fazer alguma mediação, caso seja necessário.

Esses títulos vão compor uma biblioteca de contos de fadas de alta qualidade e bem representativa. Pesquise preços, anote os títulos em sua lista de desejos. Se quiser ir ainda mais além, você pode comprar também a coletânea de contos de Charles Perrault, “Contos de Mamãe Gansa”, e “O Patinho Feio e Outras Historias”, de Hans Christian Andersen. E fique atento às publicações do blog. No próximo artigo, vou indicar antologias de fábulas para crianças, também especificadas por faixa etária. Até lá!

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Imagem:

Jessie Wilcox-Smith, João e o Pé de Feijão.