No artigo anterior, falei dos contos de fadas e sugeri uma lista de livros para apresentar às crianças esse gênero literário. Hoje, vamos falar das fábulas, um gênero portador de uma tradição ainda mais longa do que a dos contos de fadas. Com as fábulas, voltamos ao tempo da Grécia Antiga.
Trata-se de pequenas composições literárias protagonizadas na maioria dos casos por animais, e cujo desfecho contém um ensinamento sobre a vida, o comportamento humano e a realidade do mundo. Quem não conhece a história da cigarra que passou o verão cantando e no inverno teve que pedir abrigo à formiga trabalhadeira, que havia juntado provisões para o inverno e se recusava a dar? Ou a da lebre convencida que, achando que a corrida estava ganha, foi tirar um cochilo e, quando acordou, havia sido ultrapassada pela lenta, porém obstinada, tartaruga?
Em sua origem ocidental, as fábulas são histórias atribuídas a Esopo, escravo grego que teria vivido no século VI AC. Elas eram tão conhecidas e valorizadas na Grécia, que sua função educativa chegou a ser citada por Platão e Aristóteles. No século I da Era Cristã, as fábulas de Esopo foram escritas, em latim, por Fedro, escravo liberto do imperador Augusto. Posteriormente, no século XVII, foram recontadas em forma de verso pelo francês Jean de La Fontaine. E o mais incrível é que, assim como ocorre com os contos de fadas, o conteúdo das fábulas continua absolutamente atual.
Embora sejam em sua maioria animais, os personagens dessas histórias apresentam qualidades e defeitos tipicamente humanos. Por isso, La Fontaine dizia que a fábula “é uma pintura em que cada um de nós pode encontrar seu próprio retrato.” Sua leitura enriquece o imaginário e a compreensão da criança sobre as circunstâncias de sua vida, sobre ela mesma e sobre as pessoas que a cercam.
Porém, é preciso ter alguns cuidados ao apresentar as fábulas às crianças, para evitar que o seu imenso potencial educativo seja desperdiçado. Em comparação com os contos de fadas, as versões originais das fábulas exigem um pouco mais de maturidade, tanto pelo conteúdo quanto pela linguagem. Apesar de sempre estarem referenciadas a um ideal ético, as fábulas são mais realistas, elas nos falam da vida como ela é, expondo a mesquinharia e a corrupção que espreita todo coração humano. É importante que o adulto faça a mediação, ajudando a criança a assimilar bem a moral da fábula, tirando da história o seu ensinamento.
A linguagem concisa e direta empregada por fabulistas como Fedro, por exemplo, pode parecer desinteressante para crianças muito pequenas. Já a poesia de La Fontaine pode lhes ser demasiadamente difícil. Por isso, para os pequeninos, na faixa etária de três a cinco anos, vou indicar “Fábulas de Esopo Para os Mais Novinhos”, da Editora Usborne. As ilustrações de página inteira despertam a atenção e o interesse da criança, e as fábulas são recontadas em narrativas curtas, simples e divertidas, sem prejuízo do seu conteúdo original. Outra boa opção, com um texto um pouco mais extenso, mas ainda fartamente ilustrado, é o Minhas Fábulas de Esopo, de Michael Morpurgo, editado pela Companhia das Letrinhas.
Para crianças de cinco anos em diante, indico “Fábulas de Esopo”, também da Companhia das Letrinhas. Essa edição é muito bonita, com ilustrações clássicas. Nessa idade, porém, elas também já podem ser apresentadas aos versos de La Fontaine. A edição da Martin Claret reúne suas mais importantes composições poéticas, traduzidas por escritores brasileiros, e ilustradas por J. J. Granville.
A leitura de Fedro, por sua vez, poderá ser aproveitada pela criança mais tarde, na medida de sua maturidade intelectual e linguística. Sugiro que você adquira o livro, selecione as fábulas que julgar mais oportunas e adequadas para o seu filho, e vá aos poucos ajudando-o a explorar o seu potencial.
Resumindo:
“Fábulas de Esopo Para os Mais Novinhos”, Edições Usborne
“Minhas Fábulas de Esopo”, Michael Morpurgo, Companhia das Letrinhas.
“Fábulas de Esopo”, Companhia das Letrinhas.
“Fábulas”, La Fontaine (Antologia). Martin Claret
“Fábulas”, Fedro. Editora Escala. (Veja na Estante Virtual)
Por fim, é preciso dizer que esse gênero literário está presentes em muitas culturas. Tratamos aqui das fábulas da tradição ocidental. À medida em que a criança for ampliando o seu conhecimento histórico e geográfico, ela pode ser apresentada a fábulas originadas em outras tradições literárias.
* * *
Artigos Relacionados:
Como montar uma bela biblioteca de contos de fadas para o seu filho
Você precisa fazer login para comentar.