Dica simples para ensinar seu filho a lidar com a frustração

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Se você está lendo este texto, é porque se preocupa com a formação afetiva de seu filho e quer ajudá-lo a se tornar uma pessoa equilibrada. Mas esse é precisamente o aspecto do trabalho parental que costuma vir mais acompanhado de dúvidas e hesitações. A maioria dos pais se pergunta, por exemplo: como agir naquelas situações em que a criança perde o controle de si mesma por não ser capaz de lidar com alguma frustração? Estou falando daquele tipo de comportamento que costumamos chamar de “chilique”.

Não está em nosso poder definir a configuração afetiva de nossos filhos quando adultos. Mas é, sim, nosso papel ajudá-los em duas conquistas fundamentais: a autoconsciência e o autocontrole. Sem esse auxílio, o caminho deles pode ser muito mais árduo e tortuoso. E, dependendo do temperamento da criança, corremos o risco de ver o chilique se cristalizar como padrão de reação vida afora. Afinal de contas, quem não conhece adultos incapazes de lidar com frustrações sem perder o controle de si mesmos…?

Mas como ajudar a criança nesse sentido? Se você é leitor assíduo de meus textos, já sabe que eu não acredito em fórmulas educacionais prontas e universais. Cada criança é um indivíduo único no mundo e o que funciona com uma não funcionará necessariamente com outra.

Recentemente, porém, me deparei com uma dica simples e útil. Ela me pareceu tão interessante que resolvi compartilhá-la aqui. Encontrei-a num artigo intitulado “Como desarmar o chilique de um filho com uma pergunta”, de autoria de Fabiana Santos, e publicado no blog “Tudo Sobre Minha Mãe”. Transcrevo o trecho central:

“(…) quando um chilique começar – seja porque o braço da boneca saiu do lugar, seja porque está na hora de dormir, seja porque o dever de casa não saiu do jeito que ela queria, seja porque ela não quer fazer uma tarefa – seja o motivo que for, podemos fazer a seguinte pergunta para a criança, olhando nos olhos dela e com bastante calma: “Isto é um problema grande, um problema médio ou um problema pequeno?

Aqueles momentos pensando a respeito do que está acontecendo à sua volta, sinceramente, pelo menos aqui em casa, se tornaram mágicos. E todas as vezes que faço a pergunta e ela responde, a gente dá um jeito de resolver o problema a partir da percepção dela de onde buscar a solução. Um pequeno sempre é rápido e tranquilo de resolver. Algum que ela considera médio, muito provavelmente será resolvido mas não na mesma hora e ela vai entender que há coisas que precisam de algum desdobramento para acontecer. Se um problema for grave – e obviamente que grave na cabeça de uma criança não pode ser algo a ser desprezado mesmo que para a gente pareça bobo – talvez seja preciso mais conversa e atenção para ela entender que há coisas que não saem exatamente como a gente quer.”

Levar a criança a refletir sobre o tamanho do problema, e a colocar-se em perspectiva de resolvê-lo, é uma estratégia bem interessante. Mas ela me parece particularmente indicada quando o descontrole surge a partir de uma situação com a qual a criança se deparou sozinha (um brinquedo que se desencaixa, uma atividade difícil de realizar). No caso de uma frustração resultante da ação dos pais ou de circunstâncias mais amplas, o cenário é um pouco mais complexo, porque entram em jogo questões de relacionamento, autoridade, hierarquia, respeito às regras. Há uma diferença clara entre perceber que um brinquedo desencaixado pode ser um problema de fácil solução e aceitar que está na hora de ir para a cama. Nesse último caso, não se trata tanto de dimensionar um problema, e sim da criança entender que há certas decisões que sempre caberão aos adultos.

Mas quando o motivo do descontrole não envolve questões de autoridade e respeito às regras, o mais importante é mesmo levá-la a prestar atenção no ocorrido e nos sentimentos que ele suscitou. Nem sempre o resultado da conversa será como desejamos. E é preciso inclusive ter a sensibilidade de avaliar se o estado de descontrole da criança permitirá que ela entenda o que você vai dizer. Sempre vale acalmá-la antes de propor a questão.

De todo modo, mesmo que a criança se recuse a responder, a pergunta sobre o tamanho do problema vai ficar reverberando em sua mente. Com o tempo, ela compreenderá que um problema sempre parece menor quando somos capazes de observá-lo à distância. E também perceberá que boa parte deles não merece tanto dispêndio de emoção e energia. Com isso, ela estará dando um passo importante na direção da auto regulação emocional e da construção de uma personalidade equilibrada.

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Imagem: 

Frederik Morgan (1847-1927), “Never mind”, 1881.

Educação para a arte

Hoje quero deixar para você uma dica preciosa que me chegou recentemente pelo blog Encontrando Alegria, da Camila Abadie, que sigo há algum tempo. Essa dica complementa e exemplifica a minha última postagem sobre a importância do contato com a arte na formação do imaginário infantil.

Trata-se do ebook What Do You See: A Child’s First Introduction to Art, da autora americana Laurie Bluedorn. A faixa etária indicada é de 4 a 12 anos.

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What do You See” é uma obra em três volumes, que visa despertar o interesse das crianças pela pintura e transmitir três princípios introdutórios ao estudo da arte. O primeiro volume tem por objetivo levar a criança a observar e identificar o centro de interesse da obra, ou seja, a parte que o artista quer que atraia a atenção do expectador em primeiro plano. O segundo volume explora o tema da cor, focalizando a presença das cores primárias. E o terceiro trata especificamente da fonte de luz. Cada volume apresenta dez reproduções de obras clássicas, seguidas por um guia de questões.

Quem já visitou museus na Europa provavelmente pôde ver grupos de crianças em idade escolar, orientadas por um professor, observando demoradamente uma pintura. Dependendo da faixa etária, elas fazem anotações. Em geral, para as crianças pequenas, as observações do professor giram em torno dos três princípios que o livro de Laurie Bluedorn explora: “O que vocês estão vendo? O que chama atenção em primeiro lugar? Que cores predominam na tela? De onde vem a luz que ilumina a cena?”

No Brasil, infelizmente, a grande maioria das crianças não recebe esse treinamento do olhar.  São poucas as escolas que possuem a preocupação de desenvolver em seus alunos a capacidade de apreciar formalmente uma obra de arte e cujos professores estão preparados para fazer esse tipo de trabalho. Portanto, os pais precisam se preparar para assumir essa tarefa.

Começar por What Do You See pode ser bem interessante. Além de ser um guia para a iniciação à educação artística e uma fonte para a ampliação do imaginário infantil, as atividades propostas no ebook rendem momentos agradáveis de intimidade entre pais e filhos. A maior parte das pinturas retratam cenas do cotidiano infantil, o que permite que as crianças se projetem mais facilmente nas imagens. Se, além de trabalhar as questões sugeridas, você estimular seu filho a falar livremente sobre o que está vendo, deixando-o à vontade para comunicar suas impressões e expressar suas emoções, a cada quadro terá oportunidade de conhecê-lo um pouco mais.

Os três volumes estão disponíveis na Amazon por menos de 3 dólares cada. Mas certifique-se de que você vai poder visualizar as imagens a cores e em tela grande.

Referências:

What do You See: A Child’s First Introduction to Art (3 vols.)

Laurie Bluedorn

Trivium Pursuit ed.